14 de julho de 2007

VIRTUDE

Reverência à sabedoria
ao círculo que se esvazia
à raiz densa que prende ao chão

Reverência ao vazio sereno
ao coração ameno
ao sem expressão

Reverência ao vento brando
ao que acato e emano
ao viès de um vão.

Reverência a todo encanto
ao natural e santo
ao sem compreensão

9 de julho de 2007

DESABAFO

Deve haver verdade honesta neste mundo,
aquém de toda ocasião,
pautada apenas no seu profundo.

Um dia desses ainda encontro honestidade.
Prefiro a dor de uma verdade
ao romance hostil de uma ilusão.

Resisto, então, a toda prova de falsidade,
pautada em fragil necessidade
de um desvalido de cunhão.

Abdico da facilitada realidade,
forjada por falta de coragem
ou, talvez, por auto-compaixão.

Pessoas mancas apoiadas em enganos!
Resisto a seus ardilosos planos
e ao seu completo tudo que eu nunca quis ter.

Guardem para si tamanha hipocrisia,
hoje não necessito de tais honrarias
Há muito vivo sem nelas crer.

Meu peito ereto vem marcado de estillhaços
por ver aquilo que escondia,
com tanto zelo, em seus capachos.

Agora exibo orgulhosa a tatuagem
e aos quatro ventos ando rindo
de suas desonestidades.

A estrada passa e eu continuo competindo
mas já não os vejo ali bulindo,
ou zombando sem cessar.

Esse é o fim de toda gente trapaceira:
um dia enta na fogueira
e queima ate se sufocar.

8 de julho de 2007

A VOCÊ

Esteja pronto para receber
e terá a minha dedicação.

Enfrente o que é você
que eu te ofereço o meu perdão.

A cada passo arriscado
encontrará minha oração.

O seu coração calejado
posso acolher em meu peito são.

Agora se quiser amor
nada posso prometer.
Pois só deixo que ele aflore
onde eu possa permanecer.

AOS TRÊS CAVALHEIROS

Ausento-me.
Não quero me tornar um vício,
um capricho, um empecilho
um devaneio, a desilusão.

Os segredos que me ocultaram
não corroem o meu coração.
Busco a paz que me traz a alma,
regresso lento à minha solidão.

Despida de armadura
sigo firme em minha sina.
Guardem em vós minhas belezas,
pois o que persiste, já não mais fascina.

A vós, queridos cavalheiros,
entoem, agora, um novo canto
e desvendem novos mistérios
para perceberem o verdadeiro encanto.

Volto aos meus
quando o que foi passado
se tornar perfeito e nesse dia, então,
celebraremos juntos e talvez para sempre
a volta gloriosa de nossa união.

Aos meus três cavalheiros,
cheios de todo encanto,
espero em breve tê-los
em um tempo brando......

6 de julho de 2007

POESIA DA VIDA REAL

SB: Sonho em ser tartaruga.
AT: Eu já sou trataruga.
SB: Sério?
AT: Sim.
SB: Então é possível!
AT: Claro.
SB: Incrível! Você carrega o próprio mundo nas costas. Muito corajoso.
AT: O pior não é isso. O pior quando se é tartaruga é renegar a pressa.
SB: Não penso que isso seja pior.
AT: Carregar o próprio mundo é fácil;
mas quem tem pressa, não tem amor.
SB: Afundar-se no próprio mundo não é fácil; e levá-lo adiante, tampouco.
AT: Mas a mãe apressada não vê o filho crescer.
SB: Mas eu não tenho filho. Nem você.
AT: O marido que está sempre correndo
não repara o vestido novo de sua mulher.
SB: Mas eu não sou casada. Nem você.
AT: Quem tem pressa para namorar escolhe a primeira pessoa
e nao a pessoa certa.
SB: Mas eu não quero a pessoa certa. Eu quero o amor.



AT: Eu não gosto de maquiagem.
SB: Eu também não. Mas estou triste, não está vendo?
AT: Mulher quando está triste não se maqueia.
SB: Maqueia sim. Já basta estar triste por dentro,
ao menos por fora pode ser diferente.
AT: Mulher sem maquiagem é mais bonita.
A não ser que seja aquela maquiagem que não aparece.
SB: Desse tipo eu também gosto. Mas não conto que uso.
Agora também pouco importa, porque estou vestida de homem.
E homem não se maqueia.
AT: Você, vestida de homem?
SB: Sim, é uma bela armadura!
Vamos fumar um charuto e falamos mais sobre isso.
AT: Eu não gosto de charuto.
SB: Nem eu, mas é masculino.
AT: Caetano disse que achava que ser homem
bastaria para resolver seus conflitos,
mas descobriu que seu lado feminino era o seu melhor.
SB: Não acredito no que ele fala. Quem acredita em caetano?
AT: Ainda assim, eu prefiro a mulher.
SB: Eu não. Quem acredita na mulher?



SB: Vi o lugar que você gosta.
AT: Aquele?
SB: Sim! Um dia ainda vou lá.
AT: Bem, devo então avisar que lá é pântano. Cuidado.
SB: Pântano?
AT: Isso mesmo. Há quem se perdeu por lá e nunca mais voltou.
SB: Ótimo! Perfeito! Quero me perder, é la mesmo que eu vou.
AT: Mas há também quem se encontrou e nunca mais voltou.
SB: Então, iremos juntos. Para nunca mais voltar.

4 de julho de 2007

Entoe o canto niilista
e varre essa nesga de vida
zomba o que goza de alegria
escárnio sobre toda poesia amiga

Cansado de ser reluzente
apresse em ter nada
tornar-se todo ausente

Mas a culpa que te atormenta
ainda assim sera presente
não ha como um corpo oco
curar a mente doente