5 de setembro de 2007

O dia quente
pousa a nodoa espessa
e nada que aconteça
me traz algum prazer

Há um sopro frio
que o peito toca
e quando se demora
lamento o meu viver

Saudade
de passado ausente
lá pouso o meu presente
rogo te reviver

Mas o que nao havia
jamais virá à tona
e à deriva fica
o que não pude ter

1 de agosto de 2007

A DOR DO AMOR

Não choro por ti.
Choro por amor,
pela falta de amor.
Não é triste o fim; triste é não sentir amor.
Então, com o peito vazio de amor, verto lágrimas por mim mesma.
Queria poder amar.

14 de julho de 2007

VIRTUDE

Reverência à sabedoria
ao círculo que se esvazia
à raiz densa que prende ao chão

Reverência ao vazio sereno
ao coração ameno
ao sem expressão

Reverência ao vento brando
ao que acato e emano
ao viès de um vão.

Reverência a todo encanto
ao natural e santo
ao sem compreensão

9 de julho de 2007

DESABAFO

Deve haver verdade honesta neste mundo,
aquém de toda ocasião,
pautada apenas no seu profundo.

Um dia desses ainda encontro honestidade.
Prefiro a dor de uma verdade
ao romance hostil de uma ilusão.

Resisto, então, a toda prova de falsidade,
pautada em fragil necessidade
de um desvalido de cunhão.

Abdico da facilitada realidade,
forjada por falta de coragem
ou, talvez, por auto-compaixão.

Pessoas mancas apoiadas em enganos!
Resisto a seus ardilosos planos
e ao seu completo tudo que eu nunca quis ter.

Guardem para si tamanha hipocrisia,
hoje não necessito de tais honrarias
Há muito vivo sem nelas crer.

Meu peito ereto vem marcado de estillhaços
por ver aquilo que escondia,
com tanto zelo, em seus capachos.

Agora exibo orgulhosa a tatuagem
e aos quatro ventos ando rindo
de suas desonestidades.

A estrada passa e eu continuo competindo
mas já não os vejo ali bulindo,
ou zombando sem cessar.

Esse é o fim de toda gente trapaceira:
um dia enta na fogueira
e queima ate se sufocar.

8 de julho de 2007

A VOCÊ

Esteja pronto para receber
e terá a minha dedicação.

Enfrente o que é você
que eu te ofereço o meu perdão.

A cada passo arriscado
encontrará minha oração.

O seu coração calejado
posso acolher em meu peito são.

Agora se quiser amor
nada posso prometer.
Pois só deixo que ele aflore
onde eu possa permanecer.

AOS TRÊS CAVALHEIROS

Ausento-me.
Não quero me tornar um vício,
um capricho, um empecilho
um devaneio, a desilusão.

Os segredos que me ocultaram
não corroem o meu coração.
Busco a paz que me traz a alma,
regresso lento à minha solidão.

Despida de armadura
sigo firme em minha sina.
Guardem em vós minhas belezas,
pois o que persiste, já não mais fascina.

A vós, queridos cavalheiros,
entoem, agora, um novo canto
e desvendem novos mistérios
para perceberem o verdadeiro encanto.

Volto aos meus
quando o que foi passado
se tornar perfeito e nesse dia, então,
celebraremos juntos e talvez para sempre
a volta gloriosa de nossa união.

Aos meus três cavalheiros,
cheios de todo encanto,
espero em breve tê-los
em um tempo brando......

6 de julho de 2007

POESIA DA VIDA REAL

SB: Sonho em ser tartaruga.
AT: Eu já sou trataruga.
SB: Sério?
AT: Sim.
SB: Então é possível!
AT: Claro.
SB: Incrível! Você carrega o próprio mundo nas costas. Muito corajoso.
AT: O pior não é isso. O pior quando se é tartaruga é renegar a pressa.
SB: Não penso que isso seja pior.
AT: Carregar o próprio mundo é fácil;
mas quem tem pressa, não tem amor.
SB: Afundar-se no próprio mundo não é fácil; e levá-lo adiante, tampouco.
AT: Mas a mãe apressada não vê o filho crescer.
SB: Mas eu não tenho filho. Nem você.
AT: O marido que está sempre correndo
não repara o vestido novo de sua mulher.
SB: Mas eu não sou casada. Nem você.
AT: Quem tem pressa para namorar escolhe a primeira pessoa
e nao a pessoa certa.
SB: Mas eu não quero a pessoa certa. Eu quero o amor.



AT: Eu não gosto de maquiagem.
SB: Eu também não. Mas estou triste, não está vendo?
AT: Mulher quando está triste não se maqueia.
SB: Maqueia sim. Já basta estar triste por dentro,
ao menos por fora pode ser diferente.
AT: Mulher sem maquiagem é mais bonita.
A não ser que seja aquela maquiagem que não aparece.
SB: Desse tipo eu também gosto. Mas não conto que uso.
Agora também pouco importa, porque estou vestida de homem.
E homem não se maqueia.
AT: Você, vestida de homem?
SB: Sim, é uma bela armadura!
Vamos fumar um charuto e falamos mais sobre isso.
AT: Eu não gosto de charuto.
SB: Nem eu, mas é masculino.
AT: Caetano disse que achava que ser homem
bastaria para resolver seus conflitos,
mas descobriu que seu lado feminino era o seu melhor.
SB: Não acredito no que ele fala. Quem acredita em caetano?
AT: Ainda assim, eu prefiro a mulher.
SB: Eu não. Quem acredita na mulher?



SB: Vi o lugar que você gosta.
AT: Aquele?
SB: Sim! Um dia ainda vou lá.
AT: Bem, devo então avisar que lá é pântano. Cuidado.
SB: Pântano?
AT: Isso mesmo. Há quem se perdeu por lá e nunca mais voltou.
SB: Ótimo! Perfeito! Quero me perder, é la mesmo que eu vou.
AT: Mas há também quem se encontrou e nunca mais voltou.
SB: Então, iremos juntos. Para nunca mais voltar.

4 de julho de 2007

Entoe o canto niilista
e varre essa nesga de vida
zomba o que goza de alegria
escárnio sobre toda poesia amiga

Cansado de ser reluzente
apresse em ter nada
tornar-se todo ausente

Mas a culpa que te atormenta
ainda assim sera presente
não ha como um corpo oco
curar a mente doente

30 de junho de 2007

E O QUE RESTA É CICATRIZ

Salve o tempo generoso
esse balsamo doloroso
que cura lento e persistente

Salve essa foice afiada
a fossa escura e aterrada
no oculto do que é a gente

Salve, pira incandescente
crematorio permanente
de tudo o que vem à frente

Salve o rastro onde eu resto
sobre a ruina talhada
e todo o lodo aparente
que cobre carne machucada

23 de maio de 2007

À ALICE

Hoje agradeço Alice.

Pelo choro sem culpa
pela esperança adulta
que a gente às vezes renega

Por me encher de lembranças
pelo cheiro doce de infância
ao qual a gente se entrega

Por me roubar um sorriso
por reunir os amigos
por se fazer ouvir os nossos delírios

Pela tarde sem pressa
que pela casa se entorna
e pelo tempo tranquilo
que nao se encontra la fora



19 de maio de 2007

DUELO

Quero jogar botão
fumando um charuto
brindando ao que é futil
e tecendo mentiras

Quero livrar-me
dessa dor feminina
despir-me e, lasciva,
lançar-me na vida

Hoje me visto de homem
nao tenho mais que desejos
e nao ha dor em meu peito
que possa me desviar

Agora nada me toca
porque fecho tal porta
e fraqueza insistente
nao consegue chegar

E o deboche da vida
hoje samba sozinho
porque menino eu caminho
zombando o sonhar

15 de maio de 2007

RESPOSTA A UM

Abuso do desuso
e a venda preta que cobre é tarja
em mim entorna um soro de vida
e a bula antiga já virou poesia

Me cubro da forma que me assenta
que busquei nas sobras das despedidas
e, ao invés de andar em compridas voltas,
sigo o passo leve de todo dia

Onde me busco, pouco importa
e celebro o vermelho quente que pulsa a aorta
é vida pura que do corpo brota
e que repele tudo o que nao me toca.

11 de maio de 2007

ORAÇÃO

Obrigada por toda a sorte desconhecida
que a todo momento se derrama.

Obrigada pela ocasião fugaz
que permanece em nós
e que faz o amanhã cheio de esperança.

Obrigada pela beleza de todo dia.

E pela chance que me deste de contemplá-la.

FILOSOFIAS

não sei.....
o único sentido que vejo
é que o olhar se aquece
de tudo que vê
e do que intui
e, então,
vem a alegria valente
que insiste em cortar de afago
a acidez prostrada de alguma ausência.

7 de maio de 2007

SONETO DE UM TRISTE FIM

Já faz tempo,
nem conversa
nem premissas
nem vontade
nem mentiras
nada de mim ou de você

Fico pensando
se é por falta de coragem
ou se mesmo a vontade
de nunca mais se ver...

Às vezes acho
que é apenas circunstância,
chega o dia da vingança
e a gente vai se enfrentar

Mas que duelo eu espero
dessa nossa história pouca?
a gente sempre à revelia,
eu ali, você à toa...

Ainda assim
te desejo boa sorte
e agradeço pelo mote
que agora eu tenho para contar.

Entrou para a história
essa falta de atitude
e eu confesso
que não pude
deixar de te zombar.

Mas o carinho
ainda traz lembrança boa
e o coração que agora voa
vai pra longe te buscar.

GESTAÇÃO

Quero o cheiro da sujeira do mundo
e todo o calor grave de gente sem escrúpulos
Porque a vida nasce de um lodo imundo
e vai dar na beira de um riacho quase puro.

PAUSA PARA UM DISCURSO BREVE

Aos meus amigos, aos mais que amigos
e aos meus amores, todo o meu coração

Aos conhecidos, toda a minha atençao

E aos que não conheço,
aguardo anciosa esse nosso encontro

Saúdo as surpresas que me pertencem.

6 de maio de 2007

DADÁ

Vivo o delírio febril de quem acredita.
Que se cale o diálogo oco.
Desdenho o que me sufoca
e me pego rindo do que me corta.
Abaixo a frase caída
de quem pensa que sabe da vida.

21 de abril de 2007

SEM FIM

Eu não relaxo.
Penso sempre, penso em tudo,
penso até mesmo em nada.
Penso tanto que não saio do lugar.
E ainda assim, penso em chegar lá.

EU NÃO VENHO COM BULA

Eu não venho com bula.
Não sei do que sou feita, tampouco para que sirvo.
Não sei se curo alguma coisa, se sou paliativo.
Não trago benefícios, não sei se intoxico.
Overdose, eu não sei o risco - mas posso ser placebo...
e não sei o que acontece em caso de interações.
Será que eu devia vir com tarja preta?

20 de abril de 2007

BELINHA

E lá vem ela,
insana e Bela,
vem correndo divagar

E o senso dela
que ninguém espera
atropela a gente
e fala sem parar

Ela nao tem juízo
mas tem capacidade
e é tanta loucura
que a gente nem reage

E a gente fica rindo
daquela insanidade
que vem sempre cheia
de tudo que é verdade

SOBRE O SORRISO

Estranho como um sorriso pode ser perturbador.
Sorrir pode ser um ultraje.
Para mim, é instinto:
vivo e sorrio.
Prefiro a minha loucura à normalidade patética e carrancuda do mundo.

POEMINHA

Se eu soubesse cantar
entoaria uma oração
e sussurraria ao seu ouvido
toda a minha gratidão

Eu ia te ninar,
cantar para te alegrar
ia fazer ciranda
para não te ver chorar

E se um suspiro rouco
vir a te acometer,
eu te prometo, eu canto
para não te ver sofrer

QUEM SABE, UM DIA

Meu bem,
olha só o que restou
de todo aquele amor
que eu tinha por você

Quem sabe, um dia
o tempo da gente se acerta,
mas não me faça promessa,
deixa a vida acontecer

Por hora,
fica essa melancolia
e um pedaço de poesia
e a saudade de você

Quem sabe, um dia
o tempo da gente se acerta
e você seja a pessoa certa
e a gente possa acontecer...

SAMBINHA DA ESPERA

Você foi embora
sem saber quando vai voltar
vem, deixa disso
dê uma chance
e eu vou te mostrar

Nao e loucura
viver um amor de verdade
vem, volta logo
e leva embora essa saudade

Para que tristeza
quando se pode amar,
tanto carinho
eu tenho pra te dar

Volta pra mim,
agora
já disse, eu não abro mão
se é por você,
vale a pena
esperar na solidão

VALSA DO DISSABOR

Seu Joaquim era um velhinho bacana
rock, salsa, capoeira,
viagra e fliperama

Dizia que era atleta
rapel, pegava onda
tinha a sunga do Gabeira
e competia em maratona

Seu corpão era sarado,
estava sempre bronzeado,
desfilava em conversível
e jogava carteado

Até que um dia,
conheceu Emmanoela
e encantado com a donzela,
decidiu então casar

Deixou a vida de solteiro
e vive agora um pesadelo
ela fugiu com o pedreiro,
foi parar em Sabará

E Seu Joaquim
que ainda gosta da danada
todo dia manda carta
pedindo pra ela voltar

BALADINHA DA GENTE

Vem no balanço
Vem chegando, vem mansinho,
Vem roubando o meu carinho
E eu querendo disfarçar

Casa ta cheia
Se der mole
Der bobeira
Eu vou te pegar no pulo
Pode dar o que falar

A moçada chega
Todo mundo na balada
A festa ta animada
Mas eu quero é te levar!

E o tempo passa
A madrugada acabando
todo mundo ta dançando
A gente vai ficando lá

Final de noite
O cansaço te pegando
Você sai cambaleando
E eu querendo namorar

Não tem problema
A gente leva numa boa
E foge e fica
E ri à toa
Ate a gente se embolar

Na despedida
Você parte
Eu to perdida
Já caí na sua fita
E não consigo me soltar

Saudade aperta
Não agüento
Quero é festa
Você é a coisa certa
Vão bora comemorar!

BOLERO

Noite
serpenteia a moça
lua cheia latejante
é pura purpurina

Cambaleante
passa um passo
e o que resta
é rastro
e o suor fino
que evapora
entorpece e vai embora

Agora é breu
retumba o descompasso
ao fim, prelúdio
que era eu
e meu silêncio casto

PENSAMENTO

Pingente que protege a gente,
anel que é união...
Tem gente que cuida da gente,
tem gente que é assombração.

Amuleto que dá sorte,
água benta
e oração.
Tem gente que é deus pra gente,
tem gente que não tem Deus não...

Pé de coelho,
escapulário,
tem até amarração.
Tem gente que faz promessa,
tem promessa que é ilusão...

QUICK SHOTS

Chega de papo calcinha.
Prefiro cueca.
Troco a perda pelo alívio de poder ser.
Absorvo a escória que há em mim
e isso te afronta.
Talvez um dia, ao te curvar, vejas além de teu umbigo.
E que umbigo vago...cheio de um oco escuro e raso.
A arte é a possibilidade de abstrair para poder ir além.
E ir além é imergir.
É lancar-se à frente para se perder em si.